2025-05-27 IDOPRESS
Sam Altman,CEO da OpenAI — Foto: Yuichi YAMAZAKI / AFP
GERADO EM: 26/05/2025 - 16:42
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Duas notícias importantes correram o mundo da inteligência artificial na última semana. Uma ainda faz imenso sucesso nas redes sociais. A outra fez burburinho no dia,causou algum espanto pelos números — aí sumiu. A primeira é o lançamento do Veo,versão 3. Trata-se do novo modelo de vídeo do Google. Já nasce como o melhor do tipo e,pela primeira vez,torna possível a ideia de construir um filme inteiro só com IA. Causa espanto,impacto,curiosidade. A outra notícia é a aquisição,pela OpenAI,da empresa io,fundada pelo designer Jonathan Ive,pela bagatela de US$ 6,5 bilhões.
O nome da empresa é assim mesmo,em minúsculas. Ive foi o designer-chefe da Apple até 2019,é um nome famoso no Vale do Silício,e ninguém tem ideia sobre em que a io trabalha. Mas a aquisição,a mais cara da história da OpenAI,deixa claro o que o CEO Sam Altman espera da companhia. Ele quer erguer uma nova Apple. Altman deseja ser o novo Steve Jobs. Se a primeira notícia enche os olhos,a segunda é potencialmente uma das mais importantes do ano. Até porque o plano pode dar certo.
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Jony Ive não é o único responsável pelo sucesso da Apple,mas,sem ele,nada do que ocorreu desde 1997 teria sido como foi. Naquele ano,Steve Jobs retornou à empresa que havia fundado,encontrou-a num caos,à beira da falência. Ive era um jovem designer escocês,desanimado,trabalhando já meio que sem vontade. Jobs o elevou à chefia porque comprou suas ideias. Nas duas décadas seguintes,ele as implementou em produtos que transformaram o mundo. A forma que tomam as máquinas da Apple é simultaneamente elegante e acessível. Tudo é simples e minimalista,se aprende a usar intuitivamente. Os materiais são sólidos,de boa qualidade. A manufatura entrega objetos de uma solidez que se sente pelo toque nas mãos. Não há parafuso mal apertado,película que descola à toa. São todos objetos de desejo e,ao mesmo tempo,em nada intimidadores. Pelo contrário. Simpáticos. Amigáveis.
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Nada disso é trivial de conseguir. Foi o que definiu a imagem da Apple e a transformou na empresa com maior valor de mercado do mundo. Primeiro o simpático iMac translúcido,do tempo em que computadores ainda vinham com monitores com tubo de imagem. Aí,o iPod,e a ideia de que poderíamos andar com um objeto muito pequeno,muito leve,com mil músicas à disposição para ouvir quando quiséssemos. Veio o iPhone,abrindo a era dos smartphones em nossas mãos,eternamente conectados à internet. Depois o MacBook Air,um computador fino e portátil como não se imaginava possível. O iPad. O Apple Watch. Foi a Apple,com o toque de Jony Ive,que digitalizou o mundo ao mesmo tempo que nos afastava dos computadores. As telas proliferaram em nossa vida,telas com todos os tamanhos,e essa foi uma decisão consciente de design que nasceu numa única companhia.
A io é uma empresa formada por Ive no ano passado com um único objetivo: desenhar hardware,criar o conceito de máquinas para a era da inteligência artificial. Para andarmos com assistentes que sabem de tudo um pouco e nos ajudam a decodificar sons e imagens do mundo à nossa volta,o que precisamos é de smartphones? Óculos inteligentes? Gravadores que registram todas as conversas? Qual é o objeto,o melhor formato,para termos à mão o melhor que um GPT pode entregar no momento em que precisamos? Esse é o problema que a io deseja resolver. Agora,a io,assim como o passe de Ive,pertence à OpenAI.
Altman não é engenheiro. O que ele consegue fazer com clareza,e isso marca sua carreira no Vale,são três coisas. A primeira é contar uma história convincente a respeito de como o futuro pode vir a ser. A segunda,arrecadar muito dinheiro para uma empresa executar essa visão. Por fim,entregar. É exatamente o que Jobs fazia de melhor.
Sua visão para o futuro da OpenAI se tornou óbvia. Ele não imagina que sua empresa construirá a tecnologia da inteligência artificial para outros criarem em cima. Não é infraestrutura. Ele quer uma companhia voltada ao consumidor final,que entregue a experiência completa da IA. Que invente a maneira como conviveremos com a tecnologia.
Conseguirá? Bem,acaba de contratar o único designer que literalmente inventou a maneira como nos relacionamos com o universo digital nos últimos 20 anos.