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Cerco de Trump a estudantes estrangeiros ameaça educação superior e economia dos EUA

2025-05-30 HaiPress

Alunos celebram graduação em Harvard em meio a temor de revogação de vistos de estudantes estrangeiros,em discussão na Justiça — Foto: AFP

Desde que voltou à Casa Branca,o presidente Donald Trump tem posto em xeque a capacidade das universidades americanas de atrair — e manter — estudantes estrangeiros em sua guerra contra as instituições de ensino superior,que ele vê como inimigas de sua agenda conservadora. No entanto,especialistas apontam que a cruzada de Trump pode desencadear um êxodo acadêmico com impactos não apenas nas finanças das instituições,mas em toda a economia americana.

Contexto: Sob ataques do governo Trump,Harvard se une em defesa de seus valores e dos estudantes estrangeirosResposta: China condena plano 'discriminatório' dos EUA de revogar vistos de estudantes

Apenas nos últimos dias,o secretário de Estado,Marco Rubio,anunciou a revogação de vistos de estudantes chineses suspeitos de ligação com o Partido Comunista e determinou a suspensão dos agendamentos de entrevistas para novos vistos estudantis em consulados dos EUA. A Universidade Harvard,principal alvo da retaliação,chegou a ser proibida de matricular alunos internacionais — decisão suspensa por tempo indefinido por uma juíza federal nesta quinta-feira.

Segundo dados do Instituto de Educação Internacional dos EUA,o número de estudantes estrangeiros matriculados em faculdades americanas atingiu um recorde de 1,1 milhão no ano letivo de 2023-24,cerca de 6% do total no país. A concentração,no entanto,é ainda maior em universidades de elite,que respondem pelos maiores fundos patrimoniais. Na Universidade Columbia,integrante da prestigiosa Ivy League,eles ocupam quase 40% do corpo discente,enquanto em Harvard,representam um quarto do quadro de alunos. Trump,quer mudar as estatísticas:

— Temos pessoas que querem estudar em Harvard e em outras instituições e não conseguem porque temos estudantes estrangeiros lá — disse o presidente,defendendo um limite de 15% de participação.

Universidades com maior número de estudantes estrangeiros nos EUA — Foto: Arte/O Globo

Para as instituições,sua presença é estratégica: a maioria dos estudantes internacionais não recebe auxílio financeiro das universidades para realizar o curso e,em algumas instituições,chegam a pagar valores até 150% maiores do que americanos,ajudando no subsídio de bolsas para cidadãos do país. Segundo o Instituto de Educação Internacional,cerca de 86% dos estudantes de graduação e quase dois terços dos estudantes de pós-graduação estrangeiros pagaram o curso do próprio bolso.

— Para manter as portas abertas aos estudantes locais,é preciso aceitar mais alunos do exterior — defende Gaurav Khanna,economista da Universidade da Califórnia,ao New York Times.

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Recentemente,a Câmara de Deputados,controlada pelos republicanos,aprovou um projeto de lei que,se sancionado,imporá mais um golpe às universidades de elite ao aumentar significativamente os impostos sobre os seus fundos patrimoniais — reservas financeiras usadas pelas instituição para investimento em iniciativas para a comunidade,pesquisas e bolsas de estudo. Somado ao bloqueio de estudantes internacionais,o modelo de ensino superior como se conhece hoje nos EUA enfrenta um risco existencial,apontam especialistas.

— Muitas instituições dependem dos estudantes internacionais,não apenas pela perspectiva global que eles trazem para o campus,mas também pela estabilidade financeira — disse Daniel Pierce,sócio do escritório de advocacia Fragomen,à Bloomberg. — Essas universidades agora enfrentam uma escolha difícil: responder rapidamente às exigências significativas do governo ou se preparar para batalhas judiciais.

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Impacto no mercado de trabalho

As repercussões alcançam o mercado de trabalho americano. Hoje,a maioria dos estudantes internacionais busca diplomas na área de Stem (sigla em inglês para Ciências,Tecnologia,Engenharia e Matemática). Após formados,muitos ocupam postos estratégicos no Vale do Silício ou em Wall Street.

— O perigo que os EUA correm é começar a perder pessoal qualificado. Na área de tecnologia,há um esforço para trazer mão de obra de fora devido a um tradicional déficit de profissionais do setor — avalia ao GLOBO o advogado especialista em imigração Gustavo Nicolau.

Para Nicolau,os estudantes estrangeiros representam uma enorme vantagem aos EUA: a maioria deles não tem visto de trabalho durante a sua formação,ou seja,não competem com os americanos,movimentam a economia americana durante a sua estadia,uma vez que precisam residir no país,e,quando se formam,podem tanto integrar a força de trabalho do país quanto empreender.

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De acordo com a Associação de Educadores Internacionais,o grupo foi responsável por injetar quase US$ 44 bilhões na economia americana e gerar 378 mil empregos somente no ano passado. E o impacto vai bem além: das 500 pessoas mais ricas do mundo listadas pelo Bloomberg Millionaires Index,ao menos 55 que não nasceram nos EUA estudaram no país. Muitos fizeram fortuna por lá,ajudando a construir riqueza e gerar empregos.

No último ano acadêmico,mais de 240 mil estudantes com autorização de trabalho temporária (OPT) foram contratados. Já o programa de vistos H-1B,que permite trabalho permanente nos EUA,teve mais da metade de suas 360 mil permissões emitidas entre 2020 e 2023 destinadas a estudantes internacionais — a maioria oriunda da China e da Índia.

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A situação já provoca reações internacionais,especialmente em Pequim,que classificou a caça aos vistos de estudantes chineses como “discriminatória”. Hoje há cerca de 275 mil estudantes chineses no país,o equivalente a 20% de todos os vistos educacionais emitidos. Em entrevista ao New York Times,Xiaofeng Wan,que dá consultoria na China para estudantes interessados em universidades americanas,afirma que as famílias estão relutantes em enviar os filhos aos EUA.

— Eles se perguntam se devem mandar seus filhos a um país que não os quer mais lá. Nunca vi um cenário assim.

Se a tendência continuar,o número total de estudantes internacionais nos EUA poderá cair para abaixo de um milhão pela primeira vez desde 2015,afirma o professor Chris Glass,da Boston College. Ele estima que entre 50 mil e 75 mil alunos de pós-graduação em ciência e tecnologia podem ser afetados pelos cortes já feitos pelo governo,e a caça aos vistos deve aprofundar ainda mais o cenário.

— É um prejuízo que transcende a academia — disse ao Times.

(Com Bloomberg e New York Times)

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